Sou gata escaldada


Sou gata escaldada. Escaldadíssima, aliás, mas não medrosa. Eu me permito algumas vivências, mas já não tenho a sede de antes, porque bebo da minha própria fonte. Quando tenho fome, como com prazer, mas também faço abstinência para manter o corpo e a alma em forma, e penso que as duas experiências - comer e se abster - são necessárias. Não vou, como antes, com tanta sede a tudo. Lambo o pote, claro, mas não enfio a cabeça nele. Ela continua firme sobre o meu pescoço. Eu já não levo as coisas muito a sério. Já nem sou tão séria. Vivo as possibilidades, brinco com elas. Sou prudente, mas não muito, senão não me entrego. Eu me entrego, sim, mas me resgato para sempre estar inteiramente comigo. Deito e me aconchego onde encontro o que me acresce, e rolo, entre meus sonhos e a realidade, sem perder a capacidade de elevar o coração e mantendo os dois pés e meus calos sobre o chão, na terra mãe, que me abençoa, nutre e me ensina todos os dias a ser graciosamente mulher. Eu me cuido, sobretudo porque me amo!

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