Vivo este tormento de pensar na hipótese das pessoas que amo falecer, ficar sem elas em minha vida, medo de ficar sozinha.


Leitora:Milena a algum tempo acompanho seu blog, mas o que vou relatar acredito que ninguém tenha escrito. Essa é a parte em que oculto em minha vida, jamais falo sobre o que aconteceu e sobre esses medos com ninguém. Primeiro porque eu jamais conheci alguma história que nem de perto se iguala a minha (sinto vergonha) e segundo porque não desejo que ninguém sinta pena de mim. Tive uma infância boa e alegre, como uma família normal. Cresci em uma cidade interiorana bem pequena, eu meu pai, minha mãe e meu irmão um ano mais velho. Estava no auge de minha adolescência terminando segundo grau, era modelo e atleta, uma vida empolgante e feliz. Mas o destino nos pregou uma peça, meu irmão saiu para uma festa e não voltou vivo pra casa, na verdade as 5 horas da manhã alguém tocou a companhia de minha casa, e era pior notícia de nossas vidas, meu irmão estava deitado em frente ao portão de minha casa com tiro na cabeça, foi a pior imagem que pude ver até então em minha vida. Sua vida acabou ali aos 18 anos, e junto foi a felicidade de nossa família. Meu pai seguiu revoltado por anos, inclusive passou a me tratar com desprezo e sempre ansioso, para descobrir se alguém tirou a vida de meu irmão ou se foi suicídio. Mudamos daquela cidade com intenção de amenizar a dor, e motivo da morte, nada se teve notícias até o momento. Depois disso passei a ter um medo absurdo de perder pessoas que amo. Por muitos anos, tenho vivido esse pesadelo, de sempre imaginar e atr ver imagens, de várias formas de morte. Anos se passaram e nossa família que passou a ser eu, meu pai e mãe, nunca mais foi feliz, sempre me perguntei porque o destino pregou tal peça. Passados 12 anos, e a dor sim havia amenizado mas jamais esquecida, e o destino mais uma vez pregou me outra peça, o que temia aconteceu. Meu pai saiu de casa de bicicleta para comprar coisas de casa, e na esquina logo abaixo de nossa casa, ele colidiu em um veículo caindo fortemente ao chão, motivo esse que tirou lhe a vida instantaneamente. E mais uma vez a história se repetiu tragicamente, e por tantas vezes questionei Deus e até mesmo sua existência, e o medo que antes eu tinha agora se faz 100 vezes pior. Agora só tenho minha mãe, e em minha cabeça 24 horas por dia crio todos os tipos de possibilidades de morte, o simples fato de meu telefone tocar me deixa em desespero, temendo ser má notícia. Procuro mudar os pensamentos, mesmo eu trabalhando, estudando, malhando, namorando, passeando ou fazendo qualquer coisa minha mente teima em pensar essas coisas. Isso é algo que jamais tive coragem de dizer a ninguém, e também não tenho condições atualmente de pagar um profissional (psicólogo), esses pensamentos me atormenta e me impede de ser feliz por completo. Tenho 30 anos e uma aparência invejável (mesmo acima do peso), estou terminando minha pós graduação, faço atividade física( quando tenho ânimo), estou noiva, levo uma vida bastante agitada, mas nada disso me faz esquecer ou superar, e muito menos deixar de ter esses pensamentos de morte. Sou muito sensível sentimentalmente(sempre fui), e tudo que me acontece de triste, me causa muita dor e sofrimento, e que talvez normalmente em outra pessoa não seria tão intenso. Faz um ano que não tenho mais ânimo como antes, ganhei bastante peso e mesmo me sentindo péssima por isso, não tenho força o bastante pra emagrecer mesmo desejando muito isso ( o que me deixa com alto estima baixa). Graduada em Direito e honrosa por ser considerada uma das melhores alunas(o) da faculdade, desejosa em ser uma advogada reconhecida e dedicada, objetivos que movia cada passo. E que agora, tudo isso perdeu força , inclusive até o momento não obtive êxito no exame da ordem( por falta de dedicação), o que me faz sentir impotente e fracassada, não tenho lutado pelos meus objetivos como sempre fiz, sempre dediquei e cuidei com detalhes a tudo que fazia, sonhava alto, e com entusiasmo buscava conquistar todos os meus sonhos e objetivos. E hoje nada tem tamanha importância, afinal em meus pensamentos podemos morrer a qualquer momento, e todo esforço seria em vão. Compartilho da mesma opinião, que a maioria posta uma vida de fantasia nas redes sociais, e acredite, quem vê a minha vida através de minhas redes sociais, inveja uma vida feliz e bem vivida (inclusive recebo comentários de pessoas dizendo que o sonho delas era ser como eu, e ter a vida que tenho), mas que a minha realidade, me sinto injustiçada por todo o sofrimento em minha família. Teria tudo pra ser feliz, consegui chegar ao um nível de vida, que amigas de minha infância jamais chegaram, tenho saúde e beleza invejável, sempre admirada por minha inteligência, gentileza e solidariedade para com todos. Tenho um noivo que faz tudo e muito mais por mim, vive 24 horas por nós, tenho muitos amigos, que inclusive me confiam seus problemas, e adoram ouvir meus conselhos. Na minha realidade nada disso me trás conforto e bem estar, pois vivo este tormento de pensar na hipótese das pessoas que amo falecer, ficar sem elas em minha vida, medo de ficar sozinha. Eu não sei o que fazer, e como excluir esses pensamentos que me tira a paz e a felicidade, sempre buscando livros e textos sobre o assunto, mas até o momento não obtive sucesso. Gostaria de achar a solução pra essa amargura que assombra meus pensamentos, ou quem sabe aprender a conviver com eles. Não existe tortura maior, que ficar receosa todo o tempo, a espera de algo ruim acontecer.
Eu sei bem o que você está passando , pois vivenciei a dor da perda, meu pai faleceu a 4 anos e minha avó materna a dois.
A dificuldade e aceitação da perda é grande e no começo lidar com a situação além de ser difícil e complicado parece que não tem solução.
Não tem como esquecê-las.
Eu sempre lembro do meu pai e da minha avó todos os dias seja de algo que eles gostavam, falavam ou outras coisas, pois não tem como esquecer da pessoa que você conviveu por um bom tempo da sua vida.
Independente de como tenha sido a perda, ela é ruim e de qualquer forma não deixa de ser uma perda.
Nunca mais você verá a pessoa e isso dói demais.
Quando perdi meu pai, na primeira semana me deu vontade de me jogar na frente do primeiro carro que passasse, mas, minha mãe, meus irmãos e minha avó precisavam de mim naquele momento, então, tirei essa ideia da cabeça.
A morte do meu pai foi uma preparação para lidar com a da minha avó e confesso a você que os dois fazem muita falta, mas, eles estão bem onde estiverem.
Não posso ser egoísta, pois minha avó estava doente e sofrendo demais e foi justamente isso que me confortou, o fato dela ter se libertado das dores que tinha.
A do meu pai foi bastante dolorida, pois falei com ele a hora antes de um idiota jogar seu caminhão na contra mão na frente do carro dele e a aceitação foi bem mais difícil.
Minha mãe está em tratamento de depressão até hoje por causa da morte dele e são altos e baixos.
Você ficou com um certo trauma de ficar sozinha no mundo, porque passou pela dor da perda por duas vezes na vida.
Todos nós iremos passar pela dor da perda um dia e nunca se sabe como será a reação de cada um.
Não tem como prever quando irá acontecer a perda na vida de cada um, mas, caso aconteça na sua novamente, você não ficará sozinha, pois tem seu noivo que parece ser um bom homem e seus amigos que sempre te darão apoio.
Já que você disse que não tem condições de pagar um psicólogo, tente através da rede pública um tratamento psicológico para lidar com as duas perdas que você teve na vida e com alguma outra que possa vir a ter.
Uma maneira de você lidar melhor com a perda é ocupar a cabeça com outras coisas para não ficar pensando 24 horas na morte.
Eu acho que seus amigos e noivo podem te ajudar, talvez se você se abrisse com eles seria uma forma deles buscarem uma solução para que não tenhas receio da perda.
Ninguém gosta de perder um ente querido, mas, infelizmente todos nós iremos algum dia.
É bem contraditório, você consegue aconselhar os seus amigos e esconder das pessoas o que viveu e está vivendo com seus receios de que algo de ruim aconteça a sua mãe.
Você ajuda os seus amigos dando conselhos a eles agora chegou o momento de você pedir a ajuda deles.
O simples fato de você ter me escrito significa que quer e precisa de ajuda para superar a perda do seu pai e irmão e aprender a lidar com as futuras perdas que venha a ter.
Te Cuida!Espero ter te ajudado!

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